a reta flexÃvel o buraco cheio o fim do meio o peso do ar
o leite da pedra para fazer funcionar a engrenagem de uma peça só a intenção.
[ o fim de todo criador é si mesmo ]

A solidão
e a sua própria companhia.

Há 5 dias retornei do Mato Grosso, mais especificamente de Nova Xavantina, ao nordeste do Estado. Cidade de 19 mil habitantes que homenageia, em seu nome, os Ãndios Xavantes, habitantes originais do lugar... mas hoje é o agronegócio, claro, que manda. Fui fotografar o processo de 15 jovens de comunidades rurais e indÃgenas do Xingu Araguaia que estão investigando os efeitos das mudanças climáticas na produção de sementes e em suas vidas comunitárias. [ É assustador, assustador mesmo, ver o real impacto de tais mudanças - que são humanas. Ali, in loco, vi que a sinto (ou sentimos) numa escala pÃfia. ] Durante o trabalho acompanhei por 2 dias o cotidiano de Milene, 17 anos, também dentre estes jovens pesquisadores. Há 6 anos ela coleta sementes junto a sua famÃlia, de vida muito simples. Pois bem, nesses 5 dias do meu retorno pra casa, Milene não me saiu da cabeça. Guria com uma capacidade de análise crÃtica, sistêmica e simbólica, de uma autonomia e empoderamento... ela é a força cheia de sorrisos. Sim, de um futuro que já nasceu! Milene está sendo responsável por me aterrizar novamente. Rejuvenesceu minha gana pra continuar a batalha contra este sistema polÃtico das caravelas que sobrevive do nosso sangue, que nos estupra e nos extermina desde 1501, que não nos dá o direito de termos direitos. Direito nenhum sobre nossas escolhas, nossos corpos, menos ainda sobre a nossa mente. Tudo para nos anestesiar ainda mais, para nos fazer zumbis – somos todos zumbis, autistas, perdidos num mundo estéril. É... que difÃcil tarefa é construir um futuro, Milene. Mas aqui estamos, e ele é sim de luta, mas é bonito e é nosso.
Um paÃs de Milenes não pode dar errado.
